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RESENHA DE O CONTO DA AIA


 

Ainda não vi a série de TV, mas estou curiosíssima para saber como eles conseguiram transmitir os sentimentos dessa protagonista para as telas. O livro é muito pessoal; somos informados dos fatos ocorridos, mas sempre dando ênfase aos sentimentos da narradora, aos seus pensamentos durante as situações descritas.

Offred é uma aia. E é chamada dessa forma porque seu dono se chama Fred. Ela perdeu tudo: sua família, seus direitos, a liberdade, até mesmo seu nome. Em um futuro distópico, ser uma aia significa gerar filhos. Somente isso. A utilidade da mulher se concentrou na capacidade de dar a luz. Se elas não podem, são chamadas de Não-Mulheres, Marthas, condenadas a situações humilhantes e que em alguns casos levam à morte.


As pessoas se tornaram inférteis, e os Comandantes responsáveis por fomentar essa revolução e implantar essa distopia, possuem o direito de ter uma aia. Dentro dos pensamentos de Offred, somos guiados aos acontecimentos relacionados a implantação desse governo de Gilead em choque com sua própria vida antes de ser aia. Conhecemos sua ânsia de saber onde foi parar seu marido e sua filhinha. O papel da mulher de antes em comparação ao papel da mulher após.


Além de trazer à tona a importância dos direitos da mulher, e no que resultaria sua quebra, também temos diante de nós uma grande oportunidade de reflexão a respeito da religião e o fanatismo que pode se esconder por detrás dela. O que a mistura de repressão, fundamentalismo, insegurança e medo podem acarretar à uma sociedade, no que pode transformar as pessoas. Um detalhe que me chamou atenção foi que nesse livro, os próprios homens que se tornaram tão privilegiados nesse novo governo, sintam faltam das coisas como funcionavam antes dessa implementação.


A hipocrisia é latente em cada justificativa vazia; o sofrimento das mulheres que são afastadas de suas crianças recém nascidas para ficar com famílias poderosas é triste; a forma como as aias são proibidas de qualquer tipo de comunicação- mesmo entre elas; o modo completamente insano em que as aias são obrigadas a serem usadas sexualmente em prol do prazer de um homem e da reprodução; o ciúme insensato das Esposas dos Comandantes pelas aias quando as duas sofrem o mesmo tipo de repressão por serem mulheres.


Ao final do livro fica claro o porquê do título "O Conto da Aia", e entendi porque a narrativa se compunha daquela forma diferente e que, por vezes, não dinamizou minha leitura. Por se tratar de um conto e não possuir ordem cronológica, ficava um pouco confuso em determinadas partes, mas nada que tornasse o livro difícil de ser lido. Posso dizer que queria que todas as informações fossem logo jogadas na minha cara no início do livro para que eu pudesse entender como funcionava aquele país e suas regras, no entanto, todo esse conteúdo vai sendo passado de pouco em pouco pela protagonista, conforme o avançar da história. Não é segundo a nossa vontade de saber, é segundo a vontade de Offred de nos contar.


Creio que dentre as principais distopias já escritas, como 1984 e Admirável Mundo Novo, esse se torna mais um livro extremamente necessário, e que ficará por muito tempo a ecoar dentro da mente de quem o lê. Indicação fortíssima.



NOTA: 4.5/5

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