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RESENHA DE AS RÃS


 

Esse foi o primeiro contato que tive com literatura chinesa e foi uma surpresa agradabilíssima. A forma como Mo Yan escreve, de fato, me lembra um pouco de Gabriel García Marquez, aquela questão do realismo mágico, o absurdo em meio à veracidade dos acontecimentos.


O tema principal ao longo do livro é a polêmica política do filho único na China, e a história se passa durante e após sua implementação. O protagonista, Corre Corre, nos conta através de uma linguagem direta e sincera, a vida de sua tia, uma obstetra, a fim de criar uma peça referente à sua história.


Wan Coração, como é chamada sua tia, possui uma trajetória repleta de sofrimento e obstinação. Quando se formou, era responsável por inúmeros partos em sua aldeia/vilarejo, mas com o surgimento da política do filho único por parte do governo, que limitava o número de filhos por casais, e sua adesão ao partido, passou a deixar de realizar muitos partos, bem como a praticar abortos e vasectomia. Ou seja, as mãos responsáveis por trazer a vida, passaram a trazer também morte.


Durante essa parte do relato do autor, inspirado em sua observação durante a juventude, vemos o tamanho dos sofrimentos dos personagens e as consequências terríveis que os atos de Wan Coração causam, mesmo que no fundo, estejamos conscientes de suas justificativas, de sua vontade de conter o avanço de uma população que poderá "esmagar o mundo", passando fome e sem ter o que vestir, se continuasse em sua explosão populacional.


Vemos como funcionava o pensamento geral do povo na época, em que os pais não desejavam o nascimento de uma menina, com o medo de seus nomes serem apagados da história. Nesse panorama, a política de planejamento familiar, liderada pela obstinada e durona Wan Coração gera diversos problemas, culminando às vezes em morte para alguns personagens.


No primeiro dia que peguei o livro para ler, li até sua metade, pois a escrita de Mo Yan não é rebuscada, dando facilidade na hora de avançar as páginas. No entanto, quando, do meio para o final do livro, o foco passou em ser a vida pessoal de Corre Corre, invés da vida de sua tia, o livro perdeu um pouco de seu ritmo para mim. Ainda assim, é uma leitura incrível, muito indicada, e que tratá mais conhecimentos para o leitor que desejar conhecê-la. A cultura chinesa é tratada de forma clara, e somos bem inseridos no cotidiano dos personagens e em suas ambições e manias. Passamos a reconhecê-los muito bem através da descrição de Corre Corre, que nos conta sua história através de cartas enviadas a um professor muito admirado.


Dessa forma, fica uma indicação maravilhosa para vocês de um livro que me surpreendeu positivamente, e que ficará marcado na minha experiência literária, pois trata de um assunto que eu nunca tinha colocado meus olhos de leitora anteriormente. Espero que conheçam e gostem.



NOTA: 4.5/5

© 2017 por Blog Folheando

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