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RESENHA DE LOLITA


 

Não é uma tarefa nada fácil falar sobre minhas impressões a respeito de um livro tão polêmico e clássico. O conflito de sentimentos que ele gerou em mim também é complicado de organizar, ficou uma bagunça total. O Nabokov é um autor excelente; depois desse livro, não restou dúvidas. Como conseguir retratar tão bem a mente de um homem doente e nos fazer mergulhar lá dentro, ao ponto de nos sentirmos mal? Em diversas partes do livro tive que fechar suas páginas porque não estava acreditando naquilo que estava lendo. E saibam, não existe conteúdo pornográfico aqui, tudo é retratado de maneira muito sútil. Às vezes eu tinha que reler três vezes um trecho para ter certeza se era mesmo aquilo que o autor queria passar.


Acompanhamos a narrativa de Humbert Humbert (pseudônimo), que está aguardando o julgamento do júri por um crime que cometeu e que saberemos qual é ao término do livro. Ele nos conta sobre o seu "amor" por Lolita, uma menina de 12 anos, enquanto ele tinha 37 anos na época. Veja bem, ele sabe que é errado e doente, mas a todo momento tenta nos convencer através de sua prosa de estilo rebuscado, que ele a ama e que não há problemas quanto a isso.


Claro, teremos aqui um caso do estilo de Bentinho de Dom Casmurro ao nos narrar, segundo o seu ponto de vista, a traição ou não de Capitu. Em nenhum momento podemos ser seduzidos pelas ideias de H. H., mesmo que às vezes nos sintamos atraídos por sua prosa. Seu ponto de vista é muito suspeito.


Logo nas primeiras frases do livro - uma das melhores aberturas de livros da literatura-, somos inseridos na cabeça pedófila de H. H., em como foi sua primeira experiência com uma ninfeta. Apesar de ter a mesma idade que ela na época, o narrador nos diz que ela foi a predecessora de Lolita, fazendo que seu desejo por meninas de 12 a 14 anos surgisse.


Depois disso, somos conduzidos ao relato de como conheceu Lolita e como soube aproveitar todas as oportunidades para seduzir e se aproveitar da garota. Acontece algo que alavanca suas possibilidades, e ele se vê na oportunidade de conseguir da menina Lolita tudo o que deseja (sim, isso mesmo que você está pensando). Colocando medo, ameaçando, trazendo inseguranças, como sabemos que é característico de pedófilos, nosso protagonista conduz sua Lolita da maneira que bem entende, e seguimos cada vez mais agoniados com esses acontecimentos absurdos e o ciúme paranoico do personagem.


Não tem como sair incólume de uma leitura dessas. O poder da mente de Nabokov em detalhar os sentimentos desse homem doente - que inclusive assume para si mesmo esse fato -, é incrível! Vemos, ao ler essa história, o poder que a literatura tem em retratar algo praticamente irretratável. É uma leitura indicada? Sim, mas somente para quem tem cabeça e estômago para ler e assimilar o peso das circunstancias narradas no livro. É pesado e bruto em certos momentos, sendo uma leitura que constrange em seus detalhes, mesmo que implícitos.


Posso dizer que gostei do livro, como também posso afirmar que muito dificilmente irei relê-lo um dia. Acho que uma experiência com ele já é suficiente. Com certeza me deixou com muita vontade de descobrir mais sobre o autor e sua obra. Leiam, leiam... mas estejam preparados.

NOTA: 4.5/5

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