top of page

RESENHA DE A DONA DAS CHAVES


 

Estou descobrindo meu interesse por processo penal, execução penal e sistema penitenciário. Ultimamente tenho lido diversos livros e artigos sobre esses temas e feito algumas resenhas. O sistema penitenciário, conforme constatei ao longo dessa leitura, geralmente é posto de lado, tanto em relação ao repasse de verbas, como em relação ao interesse da sociedade.


Entramos, nesse último aspecto, em um terreno delicado, composto pelo preconceito e desconhecimento que a massa populacional tem do assunto. O "bandido bom é bandido morto" e "que apodreça lá dentro" são pensamentos constantes transmitidos pela sociedade. Dessa forma, ninguém quer saber sobre a realidade do sistema penitenciário. O que os olhos não veem, o coração não sente. "É só trancar todos lá dentro e jogar a chave fora". Esse livro vai de encontro a esses pensamentos ao escancarar as grades e expor os fatos.


Nesse livro acompanhamos um relato conciso e honesto feito pela autora ao nos mostrar sua experiência como diretora do DESIPE (Departamento do Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro), posteriormente substituído pela atual SEAP (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária), órgão responsável pelo sistema penitenciário e carcerário do RJ desde 2003.


Julita Lemgruber começa contando uma das dificuldades que passou no cargo, quando 14 bicheiros foram condenados em 1993, dentre eles Anísio, Castor de Andrade, Carlinhos Maracanã, Escafura. Sendo ameaçada de morte, Julita decide não ser seduzida pela corrupção e não recuar diante das ameaças à sua vida.


À partir de então, somos guiados pelos caminhos que a levaram até o sistema penitenciário, os fatores que motivaram seus interesses e seus constantes problemas ao assumir o posto de Diretora do DESIPE durante o governo de Leonel Brizola. As crises financeiras; a permanente luta para administrar um sistema falido e execrado por todos; as ameaças habituais - por parte de agentes, bandidos, políticos, corruptos; os planos traçados para soluções e constantemente frustrados; a perseguição da mídia; o sangue frio diante de situações extremas. Além disso, vemos também o lado da mulher de família, que tenta conter toda explosão diária, a fim de não contaminar todos ao seu redor pelos problemas persistentes do seu trabalho.


Com cenas que te chocam e uma realidade que te assusta, vemos todas as nuances desse sistema através do olhar perspicaz da autora. Com cerca de 250 páginas, o livro acaba num piscar de olhos, te deixando curioso. Fica a seguinte pergunta: Será que o que acontecia naquela época ainda acontece nos dias de hoje e é ocultado pela SEAP, não deixando que a impressa e nossos olhares se voltem para dentro das grades? Indicação forte para todos aqueles que desejam conhecer mais sobre esse assunto!



NOTA: 4/5


© 2017 por Blog Folheando

bottom of page