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RESENHA DE QUATROCENTOS CONTRA UM - UMA HISTÓRIA DO COMANDO VERMELHO


 

Esse livro serviu de inspiração para o filme homônimo lançado há alguns anos. Infelizmente ainda não assisti e não tenho como expressar minha opinião sobre a qualidade do mesmo. No entanto, como faço costumeiramente, li o livro antes de ver a obra adaptada para as telonas, e a minha opinião sobre essa história que nos é contata através do olhar do criminoso será retratada nas próximas linhas.


Não tenho como colocar de lado o meu conhecimento prático a respeito do ambiente criminal e penitenciário, já que tenho contato diário com esse território nos últimos dois anos (e provavelmente terei por mais um tempo). O que vejo e afirmo, é a constante negligência do Estado. Antes de tudo, tenho que expressar as seguintes opiniões: Toda pessoa deveria ser obrigada a entrar dentro de um presídio. Seria um exercício de humanidade, já que teria condições de falar sobre uma realidade que, mesmo que não conheça na vivência, conheceu por olhar, por ver. A segunda opinião é: Nunca julgue uma realidade que você não vive. Dito isso, vamos a resenha.


William da Silva Lima, vulgo "Professor", nos conta pelo seu prisma, todo seu caminho, desde o envolvimento com o crime lá na juventude até a percepção da consciência para tentar viver uma vida longe da marginalidade. Seu relato, mesmo que romantizado, logo, não completamente crível, apresenta considerações e reflexões muito pertinentes.


O autor relembra sua juventude de criminalidade desenfreada nos anos da ditadura, bem como sua passagens por diversos presídios do Rio de Janeiro. Vai nos contando, com isso, o que aconteceu para que nascesse uma das maiores facções criminosas do Brasil: O Comando Vermelho.


Por meio de uma lei que alterou os crimes considerados políticos, inserindo no rol os crimes contra entidades financeiras, William se viu preso na Ilha Grande, junto com os presos políticos, por ter praticado assaltos a bancos. Com inúmeras tentativas de fugas e, por causa disso, sem poder trabalhar, acabava voltando para o crime como única solução para arrumar dinheiro, fatos que colaboraram para sua pena se tornar alta.


Acompanhamos as dificuldades pelas quais os presos passam no Sistema, como falta de produtos básicos para higiene pessoal (pasta e escova de dentes, papel higiênico, sabonete) e até mesmo comida. A facção, inicialmente chamada Falange Vermelha, surge para preencher um espaço deixado vago pelo Estado, em que os presos inicialmente buscavam, através da formação desse grupo, condições dignas dentro do presídio, e claro, maneiras de fugir e escapar do sofrimento (algo que é, conforme estudado por Freud, inerente à alma humana).


Ao final do livro vemos sua vontade de se livrar do estigma do crime e tentar viver uma vida normal. As palavras de William mostram um arrependimento grande, uma vontade de consertar os erros do passado. Depois que conheceu sua esposa, uma advogada, suas chances jurídicas começaram a melhorar, e hoje em dia, William ainda está cumprindo suas penas por meio da tornozeleira eletrônica no regime aberto.


Diante disso tudo, fica algumas considerações. O bandido não é santo. O bandido não merece mordomia. O bandido, como ser humano, só merece dignidade e condições básicas de sobrevivência dentro de um local que já o priva de sua liberdade. Ele deve sim cumprir suas penas e quitar seu débito diante da sociedade, mas em consonância com a lei. Foi uma leitura interessante, que serviu para esclarecer meu entendimento em algumas coisas, mesmo que em muitas outras ele ainda continue nublado. Indicação para todos que sentem vontade de conhecer o lado obscuro de uma realidade tão julgada por todos.



NOTA: 4/5





ps. E sobre o título do livro, "400 contra 1", deixo para que vocês descubram com a leitura. Para não estragar o absurdo do ocorrido.


© 2017 por Blog Folheando

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