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RESENHA DE DIAS DE ABANDONO


 

Elena Ferrante. Esse nome, entre o meio literário, já possui peso. Conhecida por sua escrita intensa, crua, realista e chocante, nesse livro encontramos todos esses ingredientes misturados.


Logo no primeiro parágrafo do livro somos bombardeados com a notícia de que o marido de Olga, nossa protagonista, quer se divorciar depois de 15 anos de casamento. Nesse primeiro momento recebemos uma torrente de sentimentos que nos são passados através de Olga. Ela, não aceitando a situação, crê se tratar de uma "crise de meia idade" que muitos homens passam, e espera que ele rapidamente mude de ideia ao se dar conta do erro que está cometendo em abandoná-la.


Tudo muda conforme ela vai entendendo que aquilo é definitivo. Seu desespero vai crescer ao analisar o quanto se dedicou ao marido e aos filhos ao longo dos anos e esqueceu de si mesma. A forma cruel que o marido age na separação, não se importando em ter consideração pela esposa e mãe que ela é, ou não se preocupando com os filhos e com o cachorro que lhe pertence é revoltante. A forma como ele a trata contribui muito para o sentimento de abandono que vai crescendo dentro da protagonista. Sentimos isso muito bem, pois Elena Ferrante faz questão de não nos esconder os piores e mais dolorosos sentimentos de sua narradora.


Aos nos apresentar esse contexto que parece ser muito comum, a autora nos surpreende. O peso retratado e os sentimentos contidos que acabam transbordando através de atos enfurecidos são quase palpáveis. Imaginei quantas mulheres já passaram por isso, e o quanto são erroneamente julgadas por seus atos confusos.


A situação vai se tornando insustentável e chega ao seu ápice quando tudo ao redor de Olga começa a se destruir. Todos os problemas vão se amontoando, ela não consegue resolvê-los, não consegue se concentrar e evitar pensar em seu destino ou em como encontrar força dentro de si. Me peguei torcendo para que ela superasse, mesmo sabendo que é algo que dificilmente acontece, como a autora nos mostra no final do livro. Mesmo que o sentimento pelo homem que a abandonou acabe, resta ainda o amor pelos filhos, que a comparam com a nova esposa do marido, que não lhe demonstram um pingo de empatia.


Esse livro é perfeito para refletirmos a respeito de algo tão comum, mas que poucas vezes é visto por esse prisma. Todos esperam que a mulher seja forte, que lide com os filhos, que esqueça o marido que conviveu por anos como num passe de mágica. No entanto, esquecem que esse mesmo marido tem responsabilidade pelos filhos, pelo pacto sentimental quebrado, pela dignidade que deve tratar uma pessoa que esteve ao seu lado por tantos anos. Nos tempos de hoje, como explicitado pelo livro, falta respeito e responsabilidade.


Dentre os livros que já li da autora (somente ainda não li a série Napolitana até agora), esse foi o que mais me agradou. A leitura, mesmo pesada, flui de uma maneira melhor. Os sentimentos de Olga, apesar de confusos e tristes, são completamente inteligíveis. Se você não busca uma leitura de palavras bonitas e confortáveis, mas que mostre uma realidade fria e crua, esse é o livro certo.



NOTA: 4.5/5

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