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RESENHA DE UM AMOR INCÔMODO


 

Não tem como ficar sem notar a forma como Elena Ferrante escreve. Ninguém vai conseguir passar incólume aos impactos que ela causa com seu modo de escrever e expor sentimentos, pessoas e ambientes de forma crua e pesada.


Dessa vez ela criou uma personagem atormentada por enxergar em si mesma, sua mãe na juventude, quando a olhava com seus olhos de menina. Mais uma vez Ferrante nos traz conexões problemáticas entre mãe e filha. Délia recebe a notícia que sua mãe, Amália, se suicidou. Foi encontrada morta em uma praia trajando nada mais, nada menos do que um sutiã rendado de uma grife de lingeries. Logo Amália, que sempre ostentara calcinhas rasgadas, furadas, beges e desbeiçadas!


Ao ser confrontada com o estranho da situação, começa a procurar motivos e relembrar os traumas de uma infância nebulosa que ela julgava ter deixado para trás. Ao percorrer Nápoles, cidade natal, onde acabou de enterrar sua mãe, Delia se vê numa busca alucinada por respostas. Tentando desesperadamente saber quem ela é, ao tentar entender quem foi sua mãe.


Aos poucos os quebra cabeças propostos vão se completando, e passamos a desconfiar - depois, ter certeza-, dos traumas e da repugnância que cobre não só o passado, como também o presente. Confesso que me senti mal ao longo de algumas passagens do livro, pois a escrita dessa autora quase foge ao abstrato. É literalmente incômodo. Como areia nos olhos, como pedra no sapato. São 173 páginas que parecem 500.


Me perguntei durante a leitura porque estava lendo isso. Qual era a necessidade de me incomodar tanto com algo que deveria ser prazeroso. A resposta que achei foi simples: Porque não aceitar o desafio proposto por Ferrante? Vamos sim, adentrar a mente humana nos seus recônditos mais escuros, nos seus traumas mais complexos e assustadores, aproveitando que são pessoas fictícias, aproveitando que nada é real, é só um livro. Mas no entanto, quando você o fechar, não vai ter acabado. Os sentimentos tão bem descritos te acompanharão por um bom tempo. Isso é ou não é uma experiência interessante de leitura?


NOTA: 4/5

© 2017 por Blog Folheando

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