top of page

RESENHA DE A FILHA PERDIDA


 

Esse livro é recheado de coisas difíceis de falar, sabe aqueles sentimentos que ficam entalados na garganta e têm que descer a seco, estômago abaixo e te causam um terrível mal estar? São desses pensamentos que o livro é repleto, coisas incômodas que são ditas através da escrita marcante dessa autora tão polêmica.


Ninguém sabe de fato qual é a realidade por detrás desse nome. Quem é a dona ou dono por detrás do pseudônimo Elena Ferrante. Mas de qualquer forma, sabermos de sua identidade não mudaria muita coisa, somente nossa curiosidade mortal seria saciada. A obra permaneceria tal qual ela é, profunda e cheia de significados dolorosos, por vezes difíceis de serem interpretados.


"As coisas mais difíceis de falar são as que nós mesmos não conseguimos entender." p.6


Acompanhamos nesse livro as inquietações sentimentais de uma professora chamada Leda. Em suas férias em Nápoles, na Itália, descobrimos seu alívio ao não ser mais responsável por suas duas filhas e poder desfrutar de um merecido e necessário descanso à beira mar.


Intrigada com uma família grande de italianos clássicos (aqueles bem barulhentos) que sempre vê na praia onde passa seus dias, Leda acompanha com o olhar sempre fixo, os passos da menina Elena e sua jovem mãe. Assim, ao observar mãe e filha, ficamos sabendo de seus próprios sentimentos conflitantes como mãe, e no que esse turbilhão de emoções resultou em sua vida amorosa e profissional.


Ficamos chocados com os traumas, o ciúme, as banalidades e o horror que mesclam os sentimentos maternos de Leda em meio ao amor que sente por suas filhas. Por vezes, concordamos relutantemente com o que ela diz, enxergando a realidade crua narrada no livro em nossas próprias vidas. É difícil explicar o conteúdo das revelações sem dar spoilers.


A cada vez que se aproxima mais da mulher e sua criança, descobrindo seus segredos e se envolvendo na vida de ambas, Leda vai descortinando para os leitores mais e mais de seus sentimentos, de seus temores e das consequências exageradas de seus rompantes emocionais. É pesado, devastador e difícil de engolir, mas mesmo assim, identificamos muito disso em nossas experiências filiais.


No entanto, fica difícil julgar a personagem quando começamos a enxergar melhor o fardo que representa ser mãe (ou até mesmo pai, em alguns casos), apesar do amor envolvido. Em uma parte do livro, ela assume: "Percebi há muito tempo que conservo pouco de mim e tudo delas"; ou noutra, onde afirma: "Um filho é, de fato, um turbilhão de aflições". Fica claro o sentimento de anulação que a protagonista tem, pois em sua vida, não encontra mais a si mesma, somente as próprias filhas e as obrigações implicadas em suas criações.


Essa é uma leitura daquelas que ficam na cabeça durante um tempo. Não é feita para ser agradável, mas sim para te chocar e te fazer entender um lado da maternidade que muitas vezes é sentido pelas mães, porém quase nunca dito.



NOTA: 4/5

© 2017 por Blog Folheando

bottom of page